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O futuro da moda

Com o objetivo de reduzir a poluição, a Fashion for Good, com sede em Amsterdã, criou o Good Fashion Fund (GFF), o primeiro fundo de investimento focado exclusivamente em incentivar colaborações entre moda e tecnologia.

Por Payal Mohta

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The Good Shop, parte do museu Fashion for Good em Amsterdã, é uma experiência de espaço comercial, tematicamente construído para refletir os problemas da indústria da moda. (Foto cortesia de Presstigieux)

 

A indústria da moda tem problemas com poluição. Sua operação global de US$ 2,5 trilhões contribui com 20 a 35% do microplástico que flui para o oceano, além de reutilizar menos de 1% dos 53 milhões de toneladas de têxteis que produz anualmente.

Para resolver esse problema, a Fashion for Good, sediada em Amsterdã, criou o Good Fashion Fund (GFF), o primeiro fundo de investimento voltado exclusivamente para incentivar colaborações entre moda e tecnologia.

Lançado em setembro de 2019, o GFF é um dos três programas da Fashion for Good que usam a tecnologia para tornar a indústria da moda mais sustentável sem sacrificar o lucro. O primeiro é uma aceleradora; o segundo é um hub de informações; e o terceiro – o GFF – investe no implementação de tecnologias de ponta para ajudar os fabricantes de têxteis e confecções em larga escala do Sudeste Asiático (especificamente, Índia, Bangladesh e Vietnã), ao mesmo tempo em que recicla e usa menos energia.

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A Fashion for Good alocou US$ 60 milhões para o GFF, com uma faixa de investimento entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões por destinatário, a serem distribuídos em um período de três a sete anos. Os empréstimos são destinados a fabricantes de pequeno e médio porte, que geralmente carecem de recursos financeiros e de conhecimento para tornar seus processos produtivos sustentáveis.

Para o diretor do GFF, Bob Assenberg, o casamento entre o fundo, tecnologias ambientalmente conscientes e a produção têxtil preenche uma lacuna significativa na indústria.

“Diferente de outras operações, grande parte do trabalho na indústria de vestuário ainda está sendo feito através da manufatura”, explica ele, “então há relativamente menos mudanças na adoção de novas tecnologias”.

As iniciativas atualmente em consideração para o GFF incluem a SeaChange Technologies, com sede nos Estados Unidos, que criou um sistema de etapa única de tratamento de águas residuais para fabricantes de têxteis e vestuário; a Sonovia, sediada em Israel, que usa uma tecnologia baseada em ultrassom para tornar as fibras têxteis mais duráveis e reutilizáveis; e a DyeCoo, com sede na Holanda, que desenvolveu um processo de tingimento sem água.

A Yee Chain International, uma fabricante de tecido e espuma de borracha com fábricas em Taiwan, Vietnã, Indonésia e China, também está sendo considerada entre os investimentos. A empresa procura inovar de maneiras que “diminuam  custos” e se mostrem “melhores para o meio ambiente”, diz Martin Su, diretor de sustentabilidade da Yee Chain.

“O Good Fashion Fund atende aos nossos objetivos fundamentais de sermos mais circulares (eliminar o desperdício e reaproveitar de recursos) em nossas operações”, diz Su.

Para o Fashion for Good, o investimento do GFF em soluções sustentáveis engloba os chamados “cinco bens” que os fabricantes de vestuário devem concordar em cumprir para receber o empréstimo. Esse plano faz sugestões para melhorar suas cadeias de abastecimento em cinco pontos: bom materiais que são seguros e projetados para reciclagem e reutilização; uma boa economia que seja circular e beneficie a todos; energia boa, renovável e limpa; água boa, limpa e disponível para todos; e boas vidas, garantindo condições seguras e dignas de vida e trabalho para funcionários.

“Se os fabricantes não conseguirem implementar o plano de ação durante o prazo do empréstimo, podemos alegar inadimplência e ter o direito legal de reembolso do saldo pendente”, diz Bernadette Blom, chefe de relações com investidores do GFF.

Os dois principais investidores são o sócio-fundador da Fashion for Good, a Laudes Foundation, e a Incubadora “techstyle” baseada em Hong Kong The Mills Fabrica.

“Decidimos nos tornar um investidor do Good Fashion Fund para impulsionar a adoção de tecnologias em fabricantes e suas cadeias de suprimentos”, diz Alexander Chan, Codiretor da The Mills Fabrica. “Essa missão social está bem alinhada com nossa própria visão de criar uma plataforma de inovação aberta onde inovadores, marcas, fabricantes e investidores podem se unir para impulsionar a indústria para frente.”

No entanto, Blom aponta que encontrar investidores com “ideias semelhantes” e que confiem no modelo não-testado do fundo tem sido o maior desafio do GFF.

A Covid-19 deixou esse desafio mais difícil. A pandemia desestabilizou a indústria da moda e, consequentemente, atrasou os planos do fundo com potenciais fabricantes. Um grande motivo para esses atrasos, explica Assenberg, é que “a maioria dos fabricantes manteve o foco em normalizar as operações e priorizou o bem-estar de seus trabalhadores.”

Mas Assenberg continua otimista com a retomada dos planos de ação. Ele atribui sua visão positiva ao fato de que todos os investidores originais permaneceram a bordo e, juntos, continuam as discussões com suas redes de fabricantes em metas de sustentabilidade de longo prazo.

“O Good Fashion Fund”, diz ele, “tem paciência para lidar com essas situações”.

A AUTORA

Payal Mohta é uma jornalista freelancer baseada em Mumbai, Índia. Seu trabalho foi publicado em veículos como The Guardian, Al Jazeera e South China Morning Post. Você pode ler o trabalho dela em www.payalmohta.com.



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