Como pesquisadores avaliam a eficácia de um programa na oferta de informações para formuladores de políticas públicas? Embora muitos especialistas considerem os estudos randomizados controlados (RCTs, na sigla em inglês) como o padrão-ouro para avaliar se uma intervenção funciona, testes de campo podem fornecer retornos adicionais cruciais para a expansão de programas, argumenta um novo estudo.
O autor principal, Francesco Agostinelli, professor assistente de economia na Universidade da Pensilvânia, conheceu um programa educacional de alcance nacional no México – uma parceria entre o Banco Mundial e o Conafe, agência governamental responsável por prover serviços escolares em comunidades rurais e marginalizadas – por meio de Matteo Bobba, professor de economia na Toulouse School of Economics, na França. O programa envia recém-formados do ensino superior para comunidades rurais, onde atuam durante dois anos como mentores de professores e alunos nas escolas locais. O governo mexicano avaliou o programa por meio de um RCT, que concluiu que ele teve impacto mínimo.
A dupla de pesquisadores uniu forças com Ciro Avitabile, economista sênior do Banco Mundial, que estava em campo observando o programa do Conafe. Os três conduziram dois experimentos independentes em Chiapas, o estado mais pobre do México, para avaliar se uma modificação essencial – conectar os mentores aos pais dos alunos, envolvendo-os no apoio à educação de seus filhos – poderia melhorar o desempenho do programa.
Em um dos experimentos, os pesquisadores aplicaram a versão original do programa. Em outro, implementaram a nova versão “plus”, na qual os mentores também interagiam com os pais dos alunos, inclusive em encontros individuais na casa das famílias. Os testes mostraram que o envolvimento dos pais foi decisivo para o sucesso do programa.
Em áreas rurais do México, onde uma única escola costuma atender crianças de várias comunidades em salas multisseriadas, o fechamento de escolas é algo comum. Professores são difíceis de encontrar e, quando o número de alunos matriculados cai para menos de seis, os serviços educacionais são automaticamente encerrados. Ao estudar o programa original de mentoria em conjunto com sua versão “plus”, os pesquisadores identificaram que o sucesso dependia da prevenção desses fechamentos, algo que os pais podiam fazer ao participar de associações locais de pais, onde tinham poder de voto para manter a escola aberta. Para evitar vieses de seleção e preservar ao máximo a integridade do experimento, os pesquisadores trabalharam com uma equipe para impedir que escolas fossem fechadas.
“Havia muito conhecimento sutil que fazia diferença no contexto específico que estávamos estudando”, diz Agostinelli. “Precisávamos entender o papel dos pais na comunidade e no sistema educacional. A situação em constante mudança com a qual lidamos – que normalmente não aparece nos RCTs – era que diferentes atores podiam decidir pelo fechamento de uma escola.”
Os pesquisadores constataram que, desde que as escolas permanecessem abertas, o programa de mentoria poderia ter sua escala ampliada, resultando em melhores notas e maior nível de escolaridade, além de aumentar a probabilidade de as crianças passarem do ensino fundamental para o ensino médio. Em ambas as versões do programa do Conafe, os mentores ajudavam os professores locais atuando como substitutos e oferecendo reforço escolar para os alunos com mais dificuldades. A versão aprimorada, no entanto, treinava os mentores para interagir com os pais, o que fez toda a diferença ao incentivá-los a participar de comitês locais com poder de voto para impedir o fechamento das escolas. As descobertas dos pesquisadores somam-se a um corpo crescente de literatura que destaca o papel fundamental dos pais no sucesso escolar.
“Esse trabalho, fruto de uma agenda de pesquisa coerente, traz resultados importantes tanto sobre os mecanismos de desenvolvimento infantil como sobre o desenho de intervenções cuja escala pode ser ampliada e que podem promover o desenvolvimento de crianças em contextos de vulnerabilidade”, diz Orazio Attanasio, professor de economia na Universidade Yale. “A escalabilidade dessas intervenções é um dos grandes desafios atuais nessa área.”
Veja o estudo completo: “Enhancing Human Capital in Children: A Case Study on Scaling”, por Francesco Agostinelli, Ciro Avitabile e Matteo Bobba, Journal of Political Economy, v. 133, n. 2, 2025.









