O custo ESG do ativismo acionário 

A busca por ganhos de curto prazo gera mais reclamações sobre questões ESG entre stakeholders

Quando um investidor ativista mira uma empresa de capital aberto, geralmente exige nomear um membro para o conselho de administração que represente os interesses dos acionistas. Esse passo costuma levar a uma valorização das ações, à medida que o representante do ativista pressiona a empresa a focar em ganhos financeiros de curto prazo. Mas que outros efeitos essa ação pode ter?

Um novo estudo mostra que ela tem implicações para a responsabilidade social corporativa (RSC). Empresas que recebem um novo conselheiro ativista tendem a gerar mais queixas de stakeholders sobre questões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).

“Embora a nomeação de um conselheiro ativista tenda a aumentar o valor da empresa para os acionistas, identificamos uma externalidade oculta: isso também leva a um aumento nos relatos de danos a partes interessadas”, escrevem os autores Brian L. Connelly, professor de gestão e empreendedorismo na Faculdade de Negócios Harbert da Universidade Auburn; Mark DesJardine, professor associado de administração na Escola de Negócios Tuck da Faculdade Dartmouth; Wei Shi, professor de gestão na Escola de Negócios Herbert da Universidade de Miami; e Zhihui Sun, professor assistente na Escola de Contabilidade da Universidade Capital de Economia e Negócios em Pequim.

Os pesquisadores analisaram dados de todas as empresas que passaram a ter um conselheiro vinculado a investidores ativistas entre 2008 e 2019, abrangendo o início da onda de ativismo acionário que começou em 2010. Para cada empresa, foi identificada uma semelhante que não recebeu um conselheiro ativista, servindo como grupo de controle. As duplas foram comparadas com base em três indicadores de danos a stakeholders: avaliações de agências de RSC, cobertura da imprensa e ações regulatórias. A presença de um conselheiro indicado por investidores ativistas levou a um aumento significativo nos relatos de queixas de stakeholders, aponta o estudo.

As denúncias dos stakeholders sobre ESG não surgem necessariamente porque o investidor ativista, ou o conselheiro por ele indicado, se opõe a essas questões. O efeito provavelmente decorre do fato de que o novo conselheiro direciona a atenção do conselho de administração à melhora do desempenho financeiro e do valor das ações da empresa – o que, geralmente, é a motivação do investidor ativista desde o início. “Na maioria das vezes, não é ideológico”, diz DesJardine.

A chegada de um membro indicado por ativistas pode causar alvoroço no conselho. Alguns têm um perfil público por terem atuado como CEOs ou executivos no setor ou em outras áreas; outros trabalham diretamente para a firma ativista. Eles têm experiência relevante e são persuasivos.

“Há uma receptividade maior à campanha e ao que ela sinaliza sobre a empresa”, afirma DesJardine. O que, segundo ele, aumenta a abertura à mudança com esses conselheiros e as ideias que trazem consigo. À medida que o conselheiro ativista muda a orientação da empresa de estratégias de longo prazo para ações de curto prazo que impactam positivamente o valor das ações, as empresas tendem a reduzir gastos com pesquisa e desenvolvimento e com investimentos de capital, destinando esses recursos à recompra de ações. Esse é um bom resultado de curto prazo para os acionistas – e cumpre a missão do ativista, diz DesJardine. Os acionistas, diante desse cenário, podem votar contra o conselheiro ativista. Também podem vender suas ações na empresa. Mas suas opções, fora isso, são limitadas.

Se o desempenho em ESG for importante para a empresa ou seus stakeholders, é preciso estabelecer medidas para proteger esse foco. Diz ele: “Se isso é uma peça central da estratégia da empresa, que tipos de salvaguarda existem para protegê-la?”.

A questão de como investidores ativistas se comportam como conselheiros é importante porque a principal demanda deles ao mirar uma empresa é justamente colocar um representante no conselho, diz Margarethe Wiersema, professora de gestão estratégica na Escola de Negócios Merage da Universidade da Califórnia. A maioria desses conselheiros conquista seu assento por meio de acordos entre o investidor ativista e a empresa, e não por votação, diz ela. Isso significa que os acionistas não têm voz direta sobre a entrada do representante do investidor ativista no conselho. No conjunto, os ativistas estão ganhando cada vez mais espaço nas empresas de capital aberto, conquistando cerca de 250 assentos em conselhos por ano, segundo o estudo.

“Considerando que há cerca de 3,5 mil empresas de capital aberto nos Estados Unidos, os membros indicados por investidores ativistas conquistaram uma presença significativa nos conselhos corporativos. No entanto, sabemos pouco sobre as consequências sociais e ambientais dessa representação nos conselhos”, finaliza Wiersema. 

Veja o estudo completo: “Corporate Social Responsibility in the Age of Activist Directorships”, por Brian L. Connelly, Mark R. DesJardine, Wei Shi e Zhihui Sun, Strategic Management Journal, v. 46, n. 3, 2025.

*O texto publicado na edição 12 da SSIR Brasil mencionava que os investidores acionistas indicavam diretores para as empresas, enquanto a tradução correta é conselheiros. A versão do artigo para o site foi corrigida.

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